quinta-feira, 1 de março de 2012
PARLAPATÕES EM RIDICULOS AINDA E SEMPRE
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A partir de texto do poeta russo Daniil Kharms, os Parlapatões, levam ao palco Ridículos Ainda e Sempre. O espetáculo tem estréia marcada para agosto, em São Paulo. Depois, segue em turnê, pelo interior do estado, nos meses de novembro e dezembro.
Tudo surgiu um pouco ao acaso. Ao divulgar que o grupo completaria 20 anos, algumas entrevistas surgiram. Entre elas, a participação de Hugo Possolo no programa Provocações, apresentado por Antonio Abujamra, na TV Cultura. Abujamra pergunta o que o grupo prepara e afirma que tem um texto para oferecer. Assim, após a gravação, apresenta a tradução feita por Tatiana Belinky, por encomenda dele, do texto de um poeta russo, surrealista, precursor do futurismo, pouco conhecido no Brasil, Daniil Kharms ou, em forma abrasileirada, Daniel Charms.
A redescoberta do cotidiano, do óbvio, sempre foi o mote do universo claunesco. No texto de Daniil Kharms, porém, a desconstrução não vem apenas da utilização dos fatos do dia a dia para uma visão lúdica, ao contrário, os interpreta como um exercício angustiante, cuja distancia de solução pouco importa. Para ele, os palhaços – que todos somos – não temos noção de quanto somos pequenos diante do universo e do quanto somos grandes diante do que temos a oferecer uns aos outros.
Cada fato vivido pelas personagens ridículas em cena, reflete de forma inusitada, ou absurda, que por mais que nos esforcemos em tornar tudo pior, sempre haverá uma saída, ainda que algumas não sejam nobres, ou seja, que não sejam moralmente aceitáveis. Ao jogar com a moralidade – e com a falta dela – Khrams permite que o público se identifique no que tem de mais complexo, a sua humanidade. Transfere o dilema shakespeareano daquilo que somos ou não somos, daquilo que deveríamos ser ou não somos, para que cada um na platéia decida por si.
Cinco pessoas totalmente ridículas, como qualquer ser humano, vivem situações aparentemente desconexas entre si, mas o que dará sentido a todas é a idéia de descoberta. Passam por encontros amorosos, discussões sobre política, disputas esportivas ou a execução de uma refeição. Mas cada uma das situações recebe um fator que não lhe é comum. Como, por exemplo, enquanto duas pessoas desfrutam de um banho de sol, sentem, na verdade, o calor de um mendigo que é incendiado ao seu lado. São metáforas violentas, representadas de forma sutil, que geram tanto o riso quanto o desespero.
Rídiculos Ainda e Sempre permite aos Parlapatões voltar à figura do palhaço, para dar seu sentido lírico naquilo que tem de mais importante, que é fazer o público rir. Assim a celebração dos 20 anos do grupo foge da nostalgia e mergulha com vigor em apontar a alegria dos anos que virão.
O Poeta Surrealista Daniil Kharms
Daniil Ivanovich Yuvachev nasceu em São Pesterburgo, em 1905. Desde cedo teve envolvimento com o espírito revolucionário. Ainda jovem foi de um grupo chamado A Vontade da Pessoa que se confrontava ao poder do Czar. Adotou o nome artístico de Daniil Kharms, mas durante toda a sua carreira usou variações em pseudônimos como DanDan, Khorms, Encantos, Shardam, e Kharms-Shardam, entre outros. Em 1924, entrou na Leninegrado Electrotechnicum, de onde foi expulso por “falta de atividade em atividades sociais”. Após sua expulsão, resolveu dedicar-se inteiramente à literatura. Juntou-se ao Círculo de Tufanov e se tornou um seguidor de Velemir Khlebnikov. Tornou-se amigo do poeta Alexander Vvedensky de quem se tornou parceiro.
Em 1928, Daniil Kharms fez parte chamada vanguarda russa fundando o coletivo OBERIU, ou União da Arte Real. Envolvido com os novos movimentos do Futurismo Russo, foi colocado para fora por seus ídolos: Khlebnikov, Kazimir Malevich e Igor Terentiev, em função de suas idéias sobre a autonomia da arte e por contestar as regras adotadas pelos vanguardistas.
Seus textos ficaram muitos anos sem publicação, devido a seus versos anti-racionais e sua dramaturgia não-linear. Suas exposições públicas eram consideradas decadentes e ilógicas, o que levou aos artistas oficiais da União Soviética o tratarem com um Dandy, considerado como um “tolo” ou um “louco-homem talentoso, mas altamente excêntrico”, nos círculos culturais de Leningrado. Sua reputação no século vinte na Rússia foi baseada pela maior parte em seu trabalho extensamente dedicado às crianças. Suas outras obras (uma variedade vasta das histórias, contos, poesias, jogo literários e cênicos e investigações pseudo-científicas, filosóficas) estavam virtualmente desconhecidas até que 1970, quando começaram a ser descobertos por pesquisadores ingleses e americanos. Kharms não foi publicado oficialmente em Rússia até a Glasnost, na década de 80.
Com 20 anos de atraso, conseguiu que o OBERIU fosse de encontro à vanguarda da imprensa. Kharms nutria a fantasia de unir os artistas e os escritores progressistas do época (Malevich, Filonov, Vladimir Mayakovsky Zamyatin) com os críticos do Formalismo Russo (Tynianov, Shklovsky, Eikhenbaum, Ginzburg, etc.,) e uma geração mais nova de escritores (todos do OBERIU--Alexander Vvedensky, Konstantin Vaginov, Nikolai Zabolotsky, Igor Bakhterev).
Kharms foi preso em 1931 como um membro “de um grupo de escritores anti-soviéticos.” Foi forçado a viver um exílio dentro da própria URSS, na cidade Kursk. Assim, Kharms viveu sempre endividado e na miséria. Continuou a produzir textos, sem nunca publicá-los. Foi levado, em 1942, para o setor psiquiátrico da prisão em Leningrado, onde tentaram tachá-lo de nazista. Morreu no mesmo ano, na prisão.
Ficha Técnica
TEXTO Daniil Kharms
TRADUÇÃO Tatiana Belinky
ADAPTAÇÃO Antonio Abujamra e Hugo Possolo
DIREÇÃO Hugo Possolo
ELENCO Hugo Possolo, Raul Barretto, Jaqueline Obrigon, Abhiyana e Hélio Pottes
TRILHA SONORA André Abujamra
CENÁRIO E FIGURINO Hugo Possolo
ASSISTENCIA DE FIGURINOS Silvana Ivaldi
PINTURA CÊNICA: Werner Schulz
ILUMINAÇÃO Reynaldo Thomaz e Hugo Possolo
OBJETOSOS DE CENA Armando Júnior, Agentemesmo Cola Quente
PESQUISA DE IMAGENS E PINTURA DE CENÁRIO Werner Schulz
OPERAÇÃO DE SOM Arthur Karbstein
OPERAÇÃO DE LUZ Rodrigo Bella Dona
COSTUREIRA DE FIGURINO Alice Correa e Cleide Niwa
COSTUREIRA DE CENÁRIO Leci de Andrade
SERRALHEIRO César Augusto de Souza
FOTOS Luiz Doroneto e Lucas Arantes
PROGRAMAÇÃO VISUAL Werner Schulz
COMUNICAÇÃO Morente Forte Comunicação
ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO Vivan Dozono
PRODUÇÃO EXECUTIVA Cristiani Zonzini
COORDENAÇÃO GERAL Hugo Possolo e Raul Barretto
REALIZAÇÃO Parlapatões / Agentemesmo Produções Artísticas
Espaço Parlapatões
Praça Franklin Roosevelt, 158
Centro
Informações: 3258-4449
Ingressos: R$ 30,00 (meia-entrada R$ 15,00)
Em cartaz até 23 de março.
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